Opinião

Como as hidrelétricas atuam na luta contra as mudanças climáticas

O Brasil tem um grande potencial para construção de reversíveis (UHRs) de diferentes tipos de arranjos e ciclos de armazenamento, os quais resultam em diferentes benefícios para o Setor Elétrico Brasileiro

Por Alessandra Torres

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Coautor: Jorge Ribeiro* 

É notório que o Brasil está entre os protagonistas da transição energética mundial pela matriz renovável e abundância de recursos naturais que possui. Mas a grande questão é: Isso tem bastado? 

A pergunta é pertinente, por ser hoje uma matriz composta de energias com grande variabilidade, em um país de energia barata e tarifa alta. Exatamente em um momento climático vulnerável e intenso, no país e no mundo. Um momento em que o Operador Nacional do Sistema se prepara para manter e garantir o fornecimento de energia com receio da estiagem. 

Um país como o nosso, que detém expertise da melhor engenharia de barragens e toda a cadeia produtiva ligada às hidrelétricas, deveria tratar o assunto como prioridade nacional, mas ainda não o fez.

Estamos muito atrasados quando comparados às ações dos setores energéticos dos países desenvolvidos, graças a um ambientalismo direcionado e cego, que tem lesado o país há mais de 15 anos, impedindo-nos de implantar hidrelétricas e de abrir o diálogo transparente no que se refere às questões técnicas. Passou da hora de colocarmos na balança questões sérias, que envolvem o custo ou não de um apagão nacional, o custo de manter a segurança hídrica, energética e alimentar, ou sofrer as consequências de abrir mão de questões essenciais. Crises hídricas em 2001, 2014, 2020, que nos mostraram os desafios e o que precisamos reorganizar. O que pesaria mais no bolso do consumidor brasileiro? 

Além disso, questões muito sérias permeiam nosso dia a dia, algumas delas ligadas ao desperdício imenso do recurso hídrico, às perdas técnicas na transmissão, alocação de subsídios para quem não precisa, maior inserção de fontes fósseis e a falta de um planejamento abrangente e eficiente, pontos que trazem prejuízos incalculáveis à todos a muitos anos. Quando analisamos dados recentes da EPE – Empresa de Pesquisa Energética, é possível constatar que estamos indo na contramão da descarbonização, pois temos carbonizado sim a nossa matriz com a inserção de mais energia fóssil, quando deveríamos nos aproximar de uma quase totalidade da matriz composta de renováveis se aumentássemos nosso potencial hidroenergético. Deveríamos estar poupando água nos reservatórios existentes e construindo os novos reservatórios de todos os portes, estrategicamente localizados, para armazenar ao menos parte das grandes pluviosidades, bem como nos prepararmos para as estiagens e secas extremas, garantindo o recurso mais precioso à vida: água.  

Importante reforçar que temos o que a grande maioria do mundo não tem! O Recurso disponível, temos 12% da água doce do mundo, somos um país de vocação hídrica. Temos a resiliência do sistema para a geração de energia, o abastecimento da população e o agronegócio. 

Toda a cadeia produtiva é 100% nacional, gera renda e empregos no país e não fora dele. Royalties e compensações financeiras para os municípios, compensações ambientais divulgadas pelo Instituto Água e Terra - órgão ambiental do Paraná - que comprovou índices de reflorestamento feitos pelas hidrelétricas de Pequeno Porte 3 vezes maiores do que a vegetação suprimida para fazer as obras, em biomas sensíveis como Mata Atlântica entre outros. São parceiros da sustentabilidade, que preservam mananciais, que ajudam a manter águas subterrâneas com seus preciosos reservatórios! 

Temos grande complementaridade e sinergia com as outras renováveis. Com a inserção maciça de grandes blocos de energia solar/fotovoltaica, cada vez mais há necessidade de bateria/backup que seja renovável e confiável, visto a grande quantidade (40 GW) de solar que sai do sistema às 17:00, requerendo das hidrelétricas uma rampa de retomada rápida e eficaz que garanta o suprimento de energia com qualidade.  

À medida que caminhamos em direção a um futuro Zero Carbono, o papel do armazenamento de energia em massa nunca foi tão crítico. 

A energia hidrelétrica de usinas reversíveis (UHRs) surge como um divisor de águas nessa transição, oferecendo a tecnologia mais comprovada, confiável e econômica para armazenamento de energia em massa disponível atualmente.

Motivações essenciais e necessárias para um armazenamento bombeado:

1. Tecnologia comprovada e de baixo risco: as Reversíveis (UHRs) são a forma mais antiga e bem-sucedida de armazenamento de energia do mundo, com uma vida útil muito longa e riscos operacionais mínimos.

2. Balanceamento de energia renovável volátil: as Reversíveis (UHRs) se destacam no equilíbrio das flutuações da rede, integrando perfeitamente fontes de energia renováveis intermitentes, como eólica e solar, garantindo um fornecimento de energia estável e confiável.

3. Gerenciamento de gargalos da rede: Ao absorver o excesso de energia quando a produção é alta e liberá-la quando a demanda aumenta, as Reversíveis (UHRs) gerenciam efetivamente os gargalos da rede.

4. Resposta rápida à mudança de demanda: as Reversíveis (UHRs) oferecem suporte à estabilidade da rede respondendo rapidamente a mudanças na demanda ou interrupções repentinas, fornecendo flexibilidade essencial.

5. Aumentando a inércia da rede e a capacidade de partida: as Reversíveis (UHRs) contribuem para a estabilidade da rede, aumentando a inércia da mesma e oferecendo capacidade de partida, essencial para a recuperação de apagões.

6. Apoiando a energia renovável: Ao permitir a integração em larga escala de energia renovável, as Reversíveis (UHRs) desempenham um papel vital em nosso cenário de energia sustentável. Elas fornecem o backup necessário para acomodar a produção variável de energia eólica e solar, tornando essas fontes de energia verde mais viáveis e eficientes.

O Brasil tem um grande potencial para construção de reversíveis (UHRs) de diferentes tipos de arranjos e ciclos de armazenamento, os quais resultam em diferentes benefícios para o Setor Elétrico Brasileiro.

Destaca-se que, nos próximos anos, o Sistema Interligado Nacional precisará de muita potência firme e carga firme. A necessidade de potência firme é devido ao caráter intermitente das fontes mais baratas, eólica e solar. No caso das Reversíveis (UHRs), a potência firme é a potência disponível com o reservatório superior deplecionado e com o inferior cheio. Já a carga firme permite a absorção de excessos de geração e a disponibilidade de grandes quantidades de energia durante longos períodos.

Tais serviços podem ser implementados a partir da capacidade de armazenar energia de uma UHR e com a combinação da operação de um empreendimento deste tipo com a cascata de uma bacia. 

O armazenamento bombeado é a chave para liberar todo o potencial da energia renovável, permitindo a transição verde. 

Com os acordos internacionais que o Brasil tem assinado, comprometendo-se perante o mundo com o hidrogênio e os combustíveis verdes, são mais um reforço do quanto suas hidrelétricas são estratégicas e fundamentais para um encaminhamento seguro e factível.

Devemos renunciar à nossa potencialidade renovável é a melhor bateria que poderíamos ter?  Existirá futuro renovável sem as hidrelétricas e seus reservatórios?

*Jorge Ribeiro é diretor da Abrapch e especialista em barragens

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