Opinião

Hebert Nascimento, da K2 Management: O setor energético brasileiro pode ser imune à incerteza política?

Embora não se saiba ainda se o cenário regulatório sofrerá mudanças importantes, o presidente eleito prometeu seu apoio às renováveis

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Pioneiro no desenvolvimento de usinas hidrelétricas de grande porte desde os anos 1800, o legado brasileiro de fomentar o crescimento de tecnologias inovadoras é bem conhecido e continua a atrair investidores de todo o mundo. Após um tumultuado período de suspensão dos leilões no setor, agitação política e conflitos decorrentes dos escândalos políticos, o estabelecimento do Brasil como um centro de investimento foi ganhando força e grandes players, como Goldwind, Engie, Iberdrola e Siemens Gamesa, recentemente agarraram a oportunidade. Neste ano, os leilões de energia do governo mostraram níveis semelhantes de sucesso, alcançando uma baixa recorde nos preços da energia eólica e solar. No entanto, com o desenrolar das eleições mais tumultuadas da história recente do país, existem razões para acreditar que essa bolha vai estourar num futuro próximo?

A resposta a essa pergunta é: dificilmente. O avanço em 2017/2018 foi significativo. Tem sido um período de muita atividade para a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A entidade, ligada ao Ministério de Minas e Energia, revelou seu plano de expansão para os próximos 10 anos em 2017, também conhecido como PDE 2026, traçando algumas prioridades e projeções para o setor energético do país. De acordo com o plano, a trajetória para o desenvolvimento das energias solar e eólica continua forte, com as energias renováveis que não sejam hidrelétricas representando estimadamente metade do mix de energias até 2026. As previsões para energia solar PV em especial foram significativas, estimando-se a instalação de mais de 9 GW de grande escala e 3.5 GW de geração distribuída na próxima década. Essa forte diretriz por desenvolvimento terá um papel significativo para impulsionar os setores renováveis no Brasil.

Discute-se o impacto de um novo governo no setor energético brasileiro, e embora não se saiba ainda se o cenário regulatório sofrerá mudanças importantes, o presidente eleito prometeu seu apoio às renováveis e mais investimentos no setor. O Nordeste tem sido a região prioritária para o desenvolvimento do setor de renováveis. A região é a que tem mais alta capacidade para geração eólica e solar, contribuindo fortemente para o desenvolvimento da economia local e da cadeia de suprimento local. Verifica-se que o Banco do Nordeste, voltado para o desenvolvimento da região, vem aumentando seu orçamento para financiamento de uma série de projetos de renováveis na região. As empresas também estão investindo pesado no Nordeste, como, por exemplo, a Vestas que anunciou em outubro a construção de uma nova planta de fabricação de Naceles em Aquiraz para equipar grandes turbinas eólicas de 4.2 MW.

O crescimento do mercado livre

O mercado regulado continua a oferecer oportunidades na forma de contratos de longo prazo, mas o crescimento do mercado livre vem favorecendo o setor. Há um consenso no mercado de que uma combinação de leilões de energia promovidos pelo governo e a estratégia dos desenvolvedores de vender parte da energia no mercado livre vai aumentar consistentemente nos próximos anos. Por um lado, esse novo modelo de negócio visa garantir a conexão dos novos empreendimentos ao Sistema Interligado Nacional e, por outro lado, possibilitar a comercialização de parte da energia gerada no mercado livre a um preço que contribui fortemente para a viabilidade do negócio.

Financiamento de projetos

Após contribuir de forma inequívoca para o desenvolvimento da cadeia produtiva de energias renováveis no Brasil, a notícia de que o BNDES decidiu ajustar seus empréstimos para níveis de mercado faz parte dos esforços continuados na promoção da competitividade no setor de renováveis. Apesar das incertezas iniciais sobre o impacto que essa nova política poderia ter no ritmo de desenvolvimento das renováveis no Brasil, o apetite do investidor não diminuiu. A estratégia abriu o mercado para bancos privados interessados no financiamento de projetos de energia limpa e aumentou a competitividade, incentivando a implementação de modelos de financiamento dinâmicos e inovadores para maximizar essa oportunidade.

Embora ainda existam algumas preocupações dos investidores estrangeiros, como a política de conteúdo local e financiamentos disponíveis somente em Reais, a solidez da infraestrutura regulatória implementada pelas agências governamentais transformaram o país em um grande centro de investimentos em renováveis. Além disso, tendo em vista o fluxo contínuo de interesse por parte dos maiores players em energia do mundo, está claro que o setor de renováveis brasileiro não está dando sinais de que vá diminuir o ritmo.

Hebert Nascimento é especialista na área de renováveis na K2 Management.

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