Opinião

Os desafios da transição energética e as perspectivas para os preços de petróleo e gás em 2023

O cenário é desafiador, pois oil and gas mais caros dificultam a transição energética, que deve ser pensada como política de estado integrada e de longo prazo

Por Osmani Pontes

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A lição que a última COP27 realizada em Sharm El Sheikh, no Egito, em novembro de 2022 deixou para os produtores e consumidores de combustíveis fósseis é que o tempo é curto e a necessidade de transição energética é elevada. Porém, há ponderações a serem feitas que se ligam a aspectos macroeconômicos e de segurança energética.

A guerra na Ucrânia serviu para simultaneamente alertar para a dependência de grandes potências dos combustíveis fósseis e mostrar as dificuldades de transição. A Alemanha é fortemente dependente do gás russo bem como a França, que só é menos dependente por conta de sua matriz nuclear – apesar de não fóssil, é discutível se pode ser considerada energia limpa ou segura.

No mundo corporativo cada vez é maior a exigência, por parte do financiamento bancário, que as empresas cumpram cartilhas de ESG, em que a governança ambiental é exigida. Isso se estende, inclusive, à Petrobras, que nos últimos anos se tornou uma das poucas petroleiras a não ter uma diretoria integralmente dedicada à governança ambiental.

Enxergar isso é promissor e o atual governo parece compreender a importância de relacionar essa concepção junto à ideia de que a área econômica, na prática, não é composta somente pelos Ministérios da Fazenda, Gestão, Planejamento e Indústria e Comércio. A Petrobras, como empresa que responde pela maior fatia do investimento no país, não pode ser desprezada, mas não cabe a ela, sozinha, promover a transição energética, afinal é uma petroleira por excelência.

Por isso, é interessante haver um trabalho integrado entre Minas e Energia e Meio Ambiente junto aos ministérios da área econômica, que atuam junto à Casa Civil na transformação da política de preços, mantendo a regra de que há um balanço importador que inevitavelmente capta preços externos, mas também mantêm secretarias que pensem a transição energética como uma das secretarias de Alckmin no MDIC.

Os preços de commodities exercem papel fundamental nesse processo. A reabertura da China elevará os preços de commodities ao mesmo tempo em que os EUA observam com cautela os efeitos da política monetária, que vem subindo os juros mais que na Europa e já dá sinais na taxa de inflação, mas ainda não no mercado de trabalho, fonte da inércia inflacionária por lá.

Caso o FED modere a alta de juros haverá um enfraquecimento do dólar que favorecerá os preços de petróleo e dificultará a descarbonização de países de balanço exportador. Isso porque a alta de commodities é generalizada e energias alternativas dependem de lítio e cobre, que devem seguir aumentando de preço por conta do estrangulamento de cadeias globais de produção, sobretudo ligado a semicondutores e mcirochips, que encontram problemas na oferta. A transição será cara, mais ainda com os juros dos financiamentos mais altos, e o petróleo alto é conveniente para taxas de câmbio locais de exportadores.

O recente anúncio de aumento de produção da OPEP deve ser visto com cautela, já que pode somente acomodar a demanda do petróleo, que abriu o ano cotado a 86 dólares o barril. Uma alta do brent elevaria o preço futuro do barril, que é o preço à vista mais um prêmio menos o custo de estoque, ou seja, os donos de contratos tendem a exigir mais prêmios para se livrarem dos papéis que no vencimento implicam recebimento de barris caros. Os donos de barris também seguram, pois vêm o preço compensar o custo de estoque. Os ganhos se dão na rolagem dos contratos.

Já os traders de gás podem ter dificuldades na compra, já que o caixa tende a diminuir com o aumento de margens, função crescente dos preços de gás. São eles que geram liquidez ao mercado e vendem contratos futuros para contrapartes que desejam travar preço de acordo com seus planejamentos financeiros. Assim, demoras na entrega desses contratos podem gerar problemas de oferta.

O cenário é desafiador, pois oil and gas mais caros dificultam a transição energética, que é necessária, mas deve ser pensada como política de estado integrada e de longo prazo.

 

Economista, com MBA em mercados de derivativos, opções e futuros pelo INSPER e em gestão de portfólios cambiais pela EPGE/FGV

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