Opinião

A nova diretoria da Petrobras e seus dois principais objetivos a curto e médio prazos

Entre as preocupações do novo governo estão alterar a forma de marcação de preços de combustíveis no mercado interno e aumentar o investimento da empresa no Nordeste, para aproveitar o potencial de energias renováveis da região

Por Osmani Pontes

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O novo presidente da Petrobras, Jean-Paul Prates, indicou 5 nomes para as diretorias da estatal. Pelo rito, os indicados serão submetidos à governança interna, ao comitê de pessoas do Conselho Administrativo e ao pleno do colegiado. Há pontos em comum nos nomes que indicam um primeiro objetivo a médio prazo da empresa.

Excetuando-se os indicados para as diretorias de Exploração e Produção, Joelson Falcão e de Transformação Digital, Carlos Augusto Barreto, todos os demais têm substancial experiência na área do refino.

Claudio Schlosser, indicado para Comercialização e Logística, que juntamente com o presidente e o diretor financeiro (CFO) definem a política de preços de combustíveis, foi gerente de refino da Petrobras comandando 13 refinarias e também gerente-geral de 2 refinarias: Henrique Lage e Landulpho Alves. Carlos Travassos, indicado para Desenvolvimento da Produção, é atual gerente-executivo de sistemas de refino da empresa, responsável pelos investimentos de capital. E William França, indicado para a diretoria de Refino e Gás Natural, foi gerente de ativo da refinaria Guillermo Bell (Bolívia) e gerente-geral de 4 refinarias: Reduc (RJ), RPBC (SP), Regap (MG) e Rlam (BA).

Isso indica que a preocupação do novo governo é alterar a forma de marcação de preços de combustíveis no mercado interno. É sabido que uma unidade marginal de óleo extraído no Brasil é mais rentável de ser vendida no exterior do que no mercado interno, já que o preço do brent no mercado externo está em alta por conta dos conflitos na Rússia, porém isso gera distorção e volatilidade no mercado interno. O objetivo de olhar para a capacidade de refino é justamente evitar essa dependência ao preço externo e à taxa de câmbio.

É o mesmo argumento por trás do pedido de Prates de manter até o fim de março as desonerações sobre a gasolina e até o fim do ano sobre o diesel, pois já que o investimento em refino exige tempo, no curto prazo a melhor forma de evitar uma disparada nos preços seria manter as desonerações, o que foi uma vitória de Prates sobre a ideia original de Fernando Haddad (Fazenda), que ajustou seu pacote para compensar a não recomposição de receita esperada.

Apesar de o Banco Central ter retirado de seu comunicado de política monetária a indexação ao preço futuro do brent, são esperadas oscilações no preço da commodity que terão impactos no preço interno, até que seja definida alguma política provisória dado o tempo exigido por mudanças no refino.

Ainda faltam as nomeações para Relações Institucionais e Sustentabilidade, Governança e Conformidade (o atual tem mandato até fim de março), para a nova diretoria de Transição Energética (Maurício Tolmasquim, cotado) e do CFO, cujo cotado é Sérgio Caetano Leite.

Sérgio, assim como Prates, fez carreira no Nordeste. Prates como consultor e depois na política e Sérgio também como consultor e professor da UFBA. Com vasta experiência internacional em políticas públicas, foi diretor de programas do Consórcio Nordeste e tem amplo apoio dos governadores e de Flávio Dino (Justiça), de quem é próximo.

Isso indica uma aproximação da estatal do Nordeste, seu segundo objetivo a médio prazo para aumentar o investimento da empresa na região (e fomentar o crescimento do NE) e aproveitar o potencial de energias renováveis e limpas do NE, sobretudo de biocombustíveis, eólica e solar. Não por acaso a nova diretoria a ser criada seria legado da gestão Prates, a transição energética exigida de toda petroleira do planeta hoje.

Cogitou-se ainda que havia a intenção de recompra de ativos vendidos da exploração onshore no NE que, por ter produtividade bem abaixo da crescente produtividade offshore do pré-sal, compôs uma cesta de ativos desfeitos pela companhia. Mas isso pode ser algo de longo prazo, já que envolve um complexo processo de fusões e aquisições e a empresa deve concentrar suas operações offshore na margem equatorial, o que por sua vez envolve também um desafio ambiental.

 

Osmani Pontes é economista, com MBA em mercados de derivativos, opções e futuros pelo INSPER e em gestão de portfólios cambiais pela EPGE/FGV

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