Opinião

Paradigmas para quem fornece gás ou contrata as termelétricas

Para serem competitivas nos leilões de potência em um mercado em acelerada transformação, as térmicas precisam custar menos e responder mais rápido à demanda

Por Wagner Victer

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Historicamente, as usinas termelétricas eram contratadas para compor a base da geração, operando de maneira contínua para garantir o suprimento de energia elétrica. No entanto, com o crescimento da participação de fontes renováveis intermitentes na matriz elétrica, como eólica e solar, o problema deixou de ser a falta de energia em MWh e passou a ser a falta de potência em MW.

Nesse novo cenário, as termelétricas têm enfrentado dificuldades para competir nos leilões de Energia Nova que visam a contratação de energia para atender ao crescimento da demanda. Com a abundância de energia renovável, a necessidade de geração contínua das termelétricas diminuiu significativamente. Como resultado, o futuro das termelétricas está nos leilões de Reserva de Capacidade (LRCAP), também conhecidos como Leilões de Potência.

Nesses leilões, o objetivo é contratar usinas que possam fornecer potência em momentos críticos, quando a geração renovável não é suficiente para atender à demanda. De acordo com o "fator f" calculado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) na Nota Técnica 050-2023, que acompanhou a minuta do LRCAP desse ano, espera-se que as termelétricas precisem operar apenas nas 120 horas mais críticas do ano. Embora esse número possa ser considerado otimista, levando em conta o histórico de operação do sistema elétrico brasileiro, é inegável que o paradigma mudou.

As termelétricas passarão a operar por menos tempo, mas precisarão responder mais rapidamente às necessidades do Operador Nacional do Sistema (ONS).

Nessa nova realidade, a eficiência no consumo de combustível deixa de ser a prioridade principal. O foco passa a ser a construção de infraestrutura flexível e de baixo custo. Projetos com alto custo operacional (Opex) e baixo custo de investimento (Capex) tendem a ser mais competitivos. Na prática, isso significa que as tradicionais usinas de ciclo combinado, que são mais eficientes em termos de consumo de combustível, mas requerem alto investimento e tempo de aquecimento das caldeiras, ficam em desvantagem em relação às usinas de ciclo aberto, que são menos eficientes, mas têm menor custo de investimento e tempo de resposta mais rápido.

Além disso, já é possível observar um movimento de conversão de usinas termelétricas de ciclo combinado existentes para operarem também em ciclo aberto, visando melhorar o tempo de resposta. Nesse novo modelo, até mesmo as termelétricas a óleo combustível, que utilizam um combustível caro, passam a ser viáveis devido ao menor investimento necessário para sua construção.

Um dos grandes desafios desse novo paradigma está relacionado aos contratos de fornecimento de gás natural. Mesmo com a operação intermitente, as termelétricas continuam precisando de grandes volumes de gás, mas não de maneira constante ou consistente. Isso as torna consumidores pouco confiáveis para os fornecedores de gás, dificultando a obtenção de contratos de longo prazo a preços competitivos.

Está claro que, mais uma vez, o setor elétrico brasileiro está passando por uma transformação significativa, com a mudança do papel das termelétricas de geração contínua para reserva de capacidade. Esse novo paradigma traz desafios e oportunidades, exigindo adaptações tanto das usinas quanto dos fornecedores de combustível.

A flexibilidade e a rapidez de resposta passam a ser características essenciais para a competitividade das termelétricas nos leilões de energia, enquanto a busca por soluções inovadoras para os contratos de gás se torna fundamental para viabilizar a operação dessas usinas no novo contexto do setor elétrico brasileiro.

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