Opinião

Pensamento e desafios de Magda Chambriard

A CEO da Petrobras tem perfil que deve facilitar solução de questões de curto prazo, mas as dificuldades de longo prazo são relevantes

Por Osmani Pontes

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A recém-empossada presidente da Petrobras, egressa da regulação, tem perfil adequado para as mediações entre os diferentes grupos políticos no seio da regulação do novo mercado de combustível limpo.

Por sua vez, Magda Chambriard possui visão macroeconômica apurada e enxerga a importância da Petrobras no crescimento econômico e no desenvolvimento do país devendo estar mais alinhada aos anseios do governo federal em uma atuação mais robusta da companhia nos investimentos. Essa visão estratégica mais agressiva de mercado ficou clara em vários de seus artigos e entrevistas enquanto esteve na ANP. A visão da nova CEO deve ser mais voltada ao conteúdo local e para parcerias com empresas brasileiras do que para o exterior.

Apesar da primeira reação adversa do mercado financeiro, as preocupações dos agentes econômicos não tendem a se perfazer, pois a política de preços de combustíveis e a distribuição de dividendos extraordinários não estão na pauta.

A agenda não será tão voltada à transição energética quanto a gestão anterior por não ser o perfil da nova presidente. Em relação a isso, Chambriard entende que a tecnologia atual da Petrobras é fruto de um amplo conjunto de pesquisa e desenvolvimento e, portanto merece a credibilidade de acreditar ser possível exploração de petróleo na margem equatorial sem danos ambientais.

Um dos principais desafios será a recompra de refinarias e a conclusão de obras inacabadas. Nesse contexto, volta à mesa a negociação de compra de ações da refinaria de Mataripe. A antiga refinaria Abreu e Lima, Rnest, também entra na agenda, sobretudo a ampliação do primeiro trem de refino e licitação do segundo. Para o antigo Comperj, Gaslub, há a intenção de implantar uma unidade de produção de lubrificantes e diesel com baixo teor de enxofre.

O setor petroquímico receberá atenção especial, pois entende-se que justamente por ser um setor de baixa geração de emprego e renda não há incentivos à iniciativa privada, de maneira que a entrada da Petrobras garantiria autonomia na produção de fertilizantes fundamentais para o abastecimento da indústria sem pressões sobre o balanço de pagamentos.

Na esteira dessa visão, a Petrobras deve voltar suas atenções para o processo de venda da Braskem e para a situação da Unigel. No governo anterior, a Unigel arrendou fábricas da Petrobras, mas com o pedido de recuperação judicial da empresa, a gestão anterior da estatal entendeu que poderia haver riscos de fechamento da unidade por falta de recursos para a compra de gás, matéria-prima para a produção de fertilizantes. Como isso geraria perda de acesso aos fertilizantes, foi feito um acordo em que a Petrobras forneceria gás para a Unigel em troca de fertilizantes. Porém, como o TCU viu riscos financeiros à Petrobras, a relação está suspensa. Chambriard deve resolver esse impasse.

Um terceiro conjunto de desafios está na necessidade de aumento da oferta de gás que deve ser viabilizado com a implementação do projeto Rota 3. Isso é relevante na medida em que há um aumento de custos globais na cadeia que elevou em 25% os custos de produção, com redução de fornecedores.

Finalmente, avançar no investimento da indústria naval via estaleiros parece ser um consenso entre a CEO e o governo. Há a ideia de iniciar uma terceira onda de investimentos no setor (após os anos JK o ciclo do pré-sal) e nesse aspecto o principal obstáculo é superar o mesmo problema dos anos 2010, qual seja, a Petrobras ser a única demandante do setor.

Chambriard encontra uma empresa com dívida dentro dos parâmetros do plano estratégico e com caixa para não precisar recorrer ao financiamento externo, mas ciente de que o tempo dos projetos não é o mesmo do desejado pela política e que enquanto gestora e, não mais reguladora, precisa conciliar bons projetos em carteira com custos e prazos dentro do previsto diante de longos períodos de maturação do setor.

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